sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A Zabumba - Pernambuco


Imaginação, muita imaginação. Imaginação em grandes doses, sob forma de idéias musicais e literárias. Assim é o disco de A Zabumba. Conheci Juliano Holanda em 2005, em Fortaleza, e depois nos encontramos em Salvador e em Recife. Não lembro exatamente quando foi a primeira vez que os ouvi, mas lembro que fiquei bastante impressionado. Somente agora, em agosto, durante a Feira da Música de Fortaleza é que consegui comprar o CD deles. Gustavo Wilson, Publius, Juliano Holanda, Bruno Vinezof e Carlos Amarelo são excelentes músicos, ótimos instrumentistas e grandes criadores. Para constatar isso basta uma escutada no CD homônimo que tem 13 faixas e deliciar-se com o encarte que conta com desenhos de João Li e projeto gráfico de Balão. Segundo os integrantes, "(...) o Grupo Azabumba compôs o disco de forma visceral, transformando cada acorde numa projeção ilimitada da arte musical, sem nenhuma pretensão de apelo de mercado, verdadeiro e sincero com cada músico que participou desta etapa da carreira do grupo." Com sinceridade lhes digo que, após ouvir o disco, é exatamente isto que parece. A Zabumba consegue ser tradição e vanguarda simultaneamente, um discaço que merece ser ouvido e re-ouvido muitas vezes. Eles têm um site (http://www.azabumba.com.br) muito bacana, aproveite para visitá-los, você vai gostar.

Eis a ficha técnica do CD:

Publius - voz, vocais, bandolim
Gustavo Azevedo - voz, vocais, pífano, rabeca
Juliano Holanda - baixo, triângulo, voz, vocais
Bruno Vinezof - pandeiro, surdo, caixa, vocais, antena, alfaia, reco-reco, pratos, caxixis
Rudá - zabumba, alfaia, pandeiro, caixa, surdo, ruídos, reco-reco, pratos
Ana Araújo - triângulo, caracaxá, voz, vocais, mineiro, alfaia
Celine - texto em francês
Eli Maria, Lulu Araújo, Laila A. C. Rosa, Tiné, Urêia, Eli Maria, Lulu Freire - coro
Breno Lira - violão aço

Gravado entre agosto de 2003 e 2004 no estúdio do Departamento de Música da UFPE por Zé Guilherme Lima, Pierre, Lindemberg e Marcílio
Mixado no estúdio do Departamento de Música da UFPE por Zé Guilherme Lima e Azabumba
Produzido por Azabumba e Zé Guilherme Lima
Co-produzido por Flávio Mamoha
Masterizado no Classic Master (SP) por Carlos Freitas e Zé Guilherme Lima
Produção executiva, direção musical e arranjos: Azabumba
Projeto gráfico: Balão
Desenhos: João Li

sábado, 1 de setembro de 2007

A Euterpia - Belém do Pará


Conheci Marisa Brito, Antônio Maria Novaes, Márcio Pato e Carlos Canhão, da banda A Euterpia, de Belém do Pará, na Feira da Música de Fortaleza 2007 (fiquei sem conhecer Tom Salazar Cano, que não estava lá...). Por uma coincidência de agenda não assisti ao show deles no Palco do Rock (Centro Cultural Bom Jardim) mas, simpáticos como são, presentearam-me com seu disco Revirando o Sótão, o qual também não cheguei a escutar durante minha estada no Ceará. Porém, para minha sorte, como uma espécie de compensação a estes desencontros, desfrutei de bons momentos com Marisa, Pato e Canhão quando, na beira da praia de Iparana (esta aí acima), tomamos algumas cervejinhas e batemos um gostoso papo sobre música, produção, cultura e outras tantas coisas boas da vida. Falantes prolíferos e ouvintes atentos, de pronto reconheci pessoas queridas e positivas, que vêem nas adversidades da profissão motivos para a busca e o desenvolvimento. Voltei para Porto Alegre com a sensação de que escutá-los seria uma boa experiência e não me enganei: o disco é um achado, cheio de arranjos não-convencionais e de um humor tão intenso quanto refinado. As estruturas dos arranjos vez por outra brincam com o discurso tradicional e apresentam soluções inteligentes para as questões estéticas que eles apresentam a si próprios. Isto sem falar, é claro, de sua competência como instrumentistas e cantores. Ouvindo-os tive a impressão de que o processo de elaboração do disco Revirando o Sótão deve ter sido pura confraternização, verdadeira celebração da arte, como soem ser projetos de pessoas bacanas como eles. Quem quiser pode ouvi-los no MySpace através deste link. Ouça e deixe-se levar pela música desta rapaziada boa de Belém do Pará. Preferidas no Revirando o Sótão? Tenho sim! Não consigo parar de escutar Brechot do Brega, Dia de Alcatrão, Dentro da Caixa, Cinemática e a faixa que dá título ao CD, Revirando o Sótão. Aliás, tenho escutado tanto que, citando-os, pergunto-lhes: Como é que a gente sai de lá, como é que faz prá voltar?

sábado, 25 de agosto de 2007

Feira da Música de Fortaleza

A VI Feira da Música de fortaleza aconteceu de 15 a 18 de agosto de 2007. Estive na edição de 2005 (fazendo show com a Camerata Brasileira) e em 2006 não pude comparecer, o que talvez me tenha feito perceber tão claramente o aumento significativo da estrutura e da programação da FMF: nova programação de estandes, novos palcos para shows, aumento do número de expositores e uma grade de palestras e oficinas de muito fôlego. Tudo isto fez da feira um grande sucesso, o que não a livra de pequenas ressalvas, entre elas a baixa freqüência de público aos painéis de debates e a coincidência de horários de eventos. Ainda que seja uma iniciativa louvável, a realização de um curso de preparação para participação em rodadas de negócios no mesmo horário em que as rodadas aconteciam precisa ser repensada, pois um sabota o outro - apesar do foco de interesse ser o mesmo, é impossível participar dos dois. Estes são detalhes que de forma alguma diminuem a grandeza do evento. Ponto importante a salientar - destaque nas Feiras da Música de Fortaleza - é a hospedagem no SESC Iparana Concentrar todos os músicos no mesmo local propicia não só um intercâmbio que gera novas amizades como também possibilita rever amigos antigos, e as Jam Sessions que resultam disso são imperdíveis. Ivan Ferraro (a quem chamo carinhosamente de Sr. Feira da Música), Valéria Cordeiro e toda sua equipe são exemplos de tenacidade e persistência dos quais este país precisa, e muito.

Por fim, quero registrar que na FMF estive na agradável companhia de Mariana Martinez, uma das mentoras do Circuito Gaúcho de Música Independente e integrante da organização da Feira da Música do Sul, a qual se pretende realizar em abril de 2008. Mariana conheceu e respirou detalhes importantes que envolvem uma evento deste porte e tenho certeza de que trouxe uma bagagem importante para nosso estado.

O pequeno vídeo abaixo eu fiz em um dos deslocamentos entre Iparana e Fortaleza, enquanto pegava o depoimento de Napoleão de Assunção, do programa/projeto "No PE do Ouvido", de Pernambuco. Pode-se ver músicos de diversos estados no ônibus, puro networking!

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Seminário Internacional de Diversidade Cultural

Achei sensacional a realização do Seminário Internacional de Diversidade Cultural, principalmente as discussões sobre políticas culturais. Sem menosprezar as outras participações acho que vale a pena dar uma conferida em especial na do professor Hugo Achugar, diretor do Observatório de Políticas Culturais do Uruguai, que tem uma visão bem contemporânea sobre o assunto. Eu gostaria realmente de que os dirigentes públicos que trabalham na área da cultura dessem uma lida nos pronunciamentos de Achugar, principalmente os do meu estado (RS) e os de minha cidade (Porto Alegre). Suas idéias sobre os equívocos do estado, o censo da cultura e os fluxos culturais podem ser lidas na Agência Brasil, neste endereço.

Boa leitura,


terça-feira, 17 de julho de 2007

Sociedade Brasileira de Economia da Cultura

Recebi hoje o Informativo nº 67 da Representação Regional Sul do MinC e junto com ele a notícia da criação da Sociedade Brasileira de Economia da Cultura, que acontecerá no último dia do Seminário Internacional em Economia da Cultura, dia 20 de julho próximo. A sociedade será formada por instituições públicas e privadas que tenham foco na Cultura como elemento estratégico para o desenvolvimento econômico do país. A matéria original está neste endereço.

Eu que andava com ciúmes do Chile, da Inglaterra, dos Estados Unidos, da Índia, da Nigéria, da Áustria e da Argentina - por estarem estes países muito desenvolvidos em seus estudos e trabalhos sobre economia da cultura - respiro agora mais aliviado e vejo que talvez nós, brasileiros, não ficaremos apenas de espectadores da história. No Brasil os núcleos criativos possuem grande diversidade e força e é desnecessário falar do quanto a cultura que produzimos é apreciada no exterior e de quantas divisas poderia gerar. Mesmo assim ainda somos dependentes das benesses do Estado - através das leis de incentivo - para fazer circular nossos produtos culturais e até mesmo para gerá-los. A auto-sustentabilidade que alguns países alcançaram ou estão alcançando ainda é um sonho distante para nós, brasileiros. Espero que a criação da Sociedade Brasileira de Economia da Cultura seja um importante instrumento para o desenvolvimento de nossas economias criativas.

Vamos nos mexer! Um abraço,

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Ritual Music of Ethiopia

Ritual Music of Ethiopia foi lançado em janeiro de 1973 pelo selo Folkways Records / Smithsonian Folkways, que é o selo do Smithsonian Institution, o museu nacional dos Estados Unidos. É um trabalho impressionantemente rico, um bálsamo para ouvidos cansados das atuais gravações pasteurizadas onde todo mundo parece soar como todo mundo. É quase impossível escutar as 14 faixas do disco e não ser chacoalhado por um sentimento estranho de inquietação, seja estética, intelectual, emocional, o que seja. Sobre isso falou muito bem Michael Azerrad, Editor-in-Chief do eMusic. Segundo ele se você escutar este CD por mais de sessenta segundos e ainda não estiver alucinado talvez seja melhor verificar se você tem pulso. Concordo com ele!

Você pode escutar amostras do CD no emusic.com ou no próprio Smithsonian Folkways Recordings.


Espero que desfrutem. Grande abraço!

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Deputados e Cultura



Terça-feira estive na audiência pública que teve como objetivo discutir o financiamento da cultura, audiência esta convocada pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembléia Legislativa do RS. Não sei se estou correto, mas entendi que os prazos para emendas e demais trâmites de costume já estavam fechados. Assim sendo, o que nós, sociedade civil, estávamos fazendo lá? Juro que não entendi...

Mas tem mais: fiquei impressionado com o despreparo dos deputados para tratarem do tema cultura, pois ainda que a discussão tenha sido pertinente as questões abordadas eram muito primárias. Enquanto outros países e alguns estados brasileiros discutem economia da cultura, cultura sustentável e creative clusters, entre outras questões de ponta, nós no RS ainda estamos pensando numa maneira de punir os produtores culturais que "agirem fora da lei". Pior do que isso: estamos cegos, surdos e loucos com o paternalismo estúpido de um estado que insiste em "financiar" a cultura tão somente. Acho que precisamos mudar a tônica da discussão. Se você conhece algum deputado minimamente ligado à cultura aqui vão algumas dicas de leitura: informações sobre o movimento funk carioca, o tecnobrega do Pará, o cinema da Nigéria, o CREA - Incubadora de Industrias Creativas y Empresas Culturales de Córdoba (Argentina), o Convénio Andrés Bello (Chile) e o Creative Clusters (Inglaterra) irão fazer bem ao seu trabalho, e ao nosso também, trabalhadores da cultura que somos.

Um abraço,